terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mãos Dadas

Sem inspiração, recorro-me a Carlos Drummond de Andrade.


Mãos dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Memorial

É difícil explicar essa sensação. Ao mesmo tempo que paira no ar um tremendo alívio e sentimento de dever cumprido, é impossível não sentir certa nostalgia, uma precipitada saudade. Mas, só tenho a agradecer. A tão sonhada faculdade terminou da melhor maneira possível, mais até do que eu imaginava que poderia ter como fim. Muita emoção e uma gratificante esforço. Este é o meu memorial:


Ao nos fazerem, quando ainda somos crianças, a fatídica pergunta do que queremos ser quando crescer, as respostas são simples e incisivas: professora, bombeiro, médico... Mas quando perguntamos a nós mesmos, do primeiro até quarto ano da faculdade, se é “isso mesmo queremos fazer na nossa vida”, a resposta vem cerceada de dúvidas. Apesar de algumas certezas, é impossível não haver questionamentos que nos levam a uma autoanalise na tentativa de descobrir o que realmente queremos. Durante as aulas, não foram poucos os momentos em que questionei se ali estaria realmente semeando um futuro brilhante e uma carreira promissora. Também não foram poucas as vezes em que ouvi as esgotadas ladainhas de que o mercado está saturado, de que na área de jornalismo paga-se mal e de confundirem jornalista com apresentador de programa de televisão.
Ao longo desses quatros anos muita coisa mudou. E para melhor, sem dúvida. A ideia de “mudar o mundo”, lá do primeiro ano, como se eu fosse me transformar em uma repórter nos anos da Ditadura Militar caiu – quase todo – por terra. Ao longo do curso, do tempo e das experiências trocadas, descobri que nem sempre é preciso ser um grande herói e morrer por uma causa para se fazer jornalismo. Aprendi também que a realização não está limitada em ser todos “Fátimas Bernardes” ou “Willians Bonners”. O jornalismo é muito mais que isso. Ele é praticado todos os dias, tanto nas grandes metrópoles, quanto nas pequenas comunidades. Ao tratar de assuntos regionais ou de interesse de todos os brasileiros. De forma elitizada ou popular. A essência do jornalismo está em fazê-lo com justiça e honestidade para levar informação e esclarecimento às pessoas, um meio de comunicação da sociedade à mercê dos interesses políticos e pessoais.
No segundo ano de faculdade, pude perceber como é possível o jornalismo alternativo de forma muito privilegiada no projeto de extensão, “Oficina de TV para a 3ª idade – O recurso a disposição aos que têm mais a contar”, idealizado e praticado pelo professor Reginaldo Moreira. Como monitora por dois anos no projeto, pude conhecer como é possível, viável e gratificante trabalhar com o jornalismo comunitário. Sem dúvida, foi um dos maiores aprendizados. O professor Reginaldo Moreira, além de disponibilizar a sua grande amizade, se permitiu dividir comigo e com outros colegas, o seu talento em se comunicar e chegar até as pessoas que estão marginalizadas pela sociedade. Sem dúvida, foram tempos de grande aprendizado.
Acredito que a universidade tenha dado boas bases para minha formação. Pude conhecer um pouco de cada área: impresso, telejornalismo, radiojornalismo e jornalismo online. A produção de dois documentários, tanto audiovisual quanto para ser veiculado em rádio, foi um dos trabalhos mais prazerosos. Todos os professores, sem dúvida alguma, muito acrescentaram em minha formação, desde os trabalhos solicitados até as conversas informais. É claro que sempre carregamos críticas, aulas que achamos que deveriam ter sido melhores aproveitadas, com alunos e professores mais empenhados. A universidade jamais deixará de ser uma grande e essencial base, por mais que oficialmente e judicialmente, com grande decepção tenhamos que conviver com a realidade da não obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.
Ao término destes quatro anos, percebo o quanto amadureci. Bem mais do que eu imaginava. Agradeço a todos os professores, que levarei comigo sempre em minha memória, tendo-os como referência no exercício de profissão.
Questionei muito o quanto valia a pena continuar esta saga, a cara mensalidade paga pelos meus pais a cada mês, os finais de semanas sacrificados, as noites mal dormidas, as viagens de ônibus entre minha cidade e Campinas, o medo de não dar certo. Mas, agora, eu vejo como valeu está valendo muito a pena. E é isso sim que quero para minha vida. Aos 13 anos, na sétima série do Ensino Fundamental, me apaixonei pelo jornalismo ao ler no Guia do Estudante, da editora Abril, que o jornalista estará sempre correndo contra o tempo nas redações em busca de pautas e notícias, trabalhando a favor da sociedade. Agora, passados tantos anos, tenho um sonho realizado, e é pelos mesmos motivos que ainda continuo apaixonada pela arte do jornalismo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

E quem se importa?


E quem se importa? Postou Noblat em seu blog.

E quem se importa com a cama feita de lama, concreto no chão. Eu finjo que não vejo e ponho em prática o velho ditado: "o que os olhos não vêem o coração sente".
Aqueles olhares são uma ameaça ao meu estado de espírito, à minha ascenção social, cultural, profissional.

A menina de mãos dadas com a mãe tem medo do que vê. Sem banho, roupa encardida, cheiro de abandono pairando pelo ar. E quem se importa? Nem eu. Nem você. É melhor seguir a velha tradição de tapar os olhos para não doer a coração.

Ninguém se importa ...


Praça José de Alencar, bairro do Flamengo, Rio. Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E tudo acaba em pizza ...

Como sempre, Lúcia Hipólito com sua crítica sofisticada, vem nos lembrar das peripécias do Senado brasileiro, exclusivamente do presidente José Sarney. Ontem, a indignação correu na veia. O PT se mostrou fraco, rachado e longe de pôr em prática os ideais do partido (cujo nome: DOS trabalhadores). O cerco se fechou, o líder da bancada do governo, Aloísio Mercadante, perdeu a autoridade e a força que um líder deve ter. E Lula ... nosso querido presidente segue adiante num projeto mais particular do que conjunto e partidário, com a obsessão de eleger Dilma em 2010. A moral da história é que mais uma vez, tudo acabou em pizza.

O caso do coronel


Lúcia Hipólito



As mais recentes denúncias sobre as estripulias do senador José Sarney estão longe de ser as últimas e apontam na mesma direção de todas as anteriores: a privatização de recursos e espaços públicos em benefício próprio. Ou de sua família. E o desprezo às leis do país.


Senão vejamos. Distraído, Sarney não reparou que recebia mensalmente R$ 3,8 mil de auxílio-moradia, mesmo tendo mansão em Brasília e tendo à disposição a residência oficial de presidente do Senado.
Culpa da burocracia do Senado.


Distraidíssimo, Sarney esqueceu de declarar sua mansão de R$ 4 milhões à Justiça Eleitoral. Culpa do contador.


Precavido, requisitou seguranças do Senado para proteger sua casa em São Luís – embora seja senador pelo Amapá.


Milionário (embora o Maranhão continue paupérrimo), não empregou duas sobrinhas e seu neto em suas inúmeras empresas. Preferiu que se empregassem no Senado.


Milionário generoso, não quis deixar a viúva de seu motorista ao relento. Empregou-a para servir cafezinho no Senado, em meio expediente, com salário de R$ 2,3 mil. Ah, e alojou-a em apartamento na quadra dos senadores.


Generoso, não impediu que seu outro neto fizesse negócios milionários com crédito consignado no Senado.


Ainda generoso, entendeu que um agregado da família deveria ser também empregado como motorista do Senado – salário atual de R$ 12 mil – mas trabalhando como mordomo na casa da madrinha, sua filha e então senadora Roseana Sarney.


Aliás, Roseana considerou normal convidar um grupo de amigos fiéis para um fim de semana em Brasília – com passagens pagas pelo Congresso.
Seu filho, Fernando Sarney, o administrador das empresas, que sequer é parlamentar, considerou normal ter passagens aéreas de seus empregados pagas com passagens da quota da Câmara dos Deputados.


Patriarca maranhense, ocupou as dependências do Convento das Mercês, jóia do patrimônio histórico, e ali instalou seu mausoléu. O Ministério Público já pediu a devolução, mas está complicado.


Não é um fofo?


Um dos mais recentes escândalos cerca justamente a Fundação José Sarney, que se apoderou das instalações do Convento das Mercês. Consta que R$1.300 mil captados através da Lei Rouanet junto à Petrobrás, para trabalhos culturais na Fundação José Sarney foram... desviados.
Não há prestação de contas, há empresas-fantasmas, notas fiscais esquisitas.


Enfim, marotice, para dizer o mínimo.( ou corrupção suburbana, como disse o Luis Fernando Veríssimo, desculpando Lula da inúmeras "maracutais" que promove) Mas Sarney alega que só é presidente de honra da Fundação.



Culpa dos administradores.


E o escândalo mais recente (na divulgação, não na operação): Sarney seria proprietário de contas bancárias no exterior não declaradas à Receita Federal. Coisa do amigão Edemar Cid Ferreira, amigão também da governadora Roseana Sarney a quem, dizem, costumava emprestar um cartão de crédito internacional. Coisa de gente fina.


Em suma, acompanhando as peripécias de José Sarney podemos revelar as entranhas do coronelismo, do fisiologismo, do clientelismo. Do arcaísmo.
Tudo isto demora a morrer. Estrebucha, solta fogo pela venta. Mas um dia desaparece.


Tal como os dinossauros.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Afastamento do vereador Carlos Alberto

Vale a pena assistir a sessão na Câmara dos Vereadores de Amparo.
Para entender o caso, segue abaixo trecho da matéria publicada no jornal A Tribuna.

http://www.youtube.com/watch?v=dfHsGggDnsc


- No início de abril, a Câmara Municipal de Amparo recebe uma denúncia anônima contra o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC). A denúncia alertava a respeito de possíveis irregularidades cometidas pelo vereador durante um afastamento do trabalho concedido pelo Instituto Nacional de Seguridade Social. Na denúncia, foi juntado um atestado médico do vereador, que comprovaria a irregularidade Ao tomar conhecimento da denúncia, o presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mário Acácio Ancona (PPS) encaminhou o fato ao conhecimento do Departamento Jurídico da Câmara Municipal de Amparo para dar um parecer. O parecer já foi devolvido ao presidente da Câmara Municipal e na segunda-feira, dia 13 de abril, Carlos Alberto Martins foi notificado do caso e teria 10 dias para apresentar a sua defesa. O caso estava sob sigilo.
- No dia 17 de abril, a noticia sobre a denúncia é divulgada por A Tribuna e o caso torna-se público.
- Na quarta-feira, dia 22 de abril, o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC) protocolou na Câmara Municipal de Amparo defesa em relação à denúncia apresentada contra ele sobre possíveis irregularidades cometidas em decorrência de um afastamento do trabalho concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). Na sua defesa, Carlos Alberto negou qualquer irregularidade, afirma ser vítima de “alguém político” e diz ainda que o atestado médico que originou a denúncia foi subtraído de sua pasta nas dependências da Câmara Municipal de Amparo em janeiro deste ano. O vereador encaminha sua defesa ao jornal A Tribuna para ser publicada e fala no seu programa de rádio sobre o assunto. Carlos Alberto diz que a pessoa que furtou o atestado médico “provavelmente seja a mesma que apresentou a denúncia na Câmara Municipal”.
- No dia 28 de abril, o presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mário Acácio Ancona (PPS), protocola requerimento assinado por ele e outros oito vereadores que pede a instauração de processo disciplinar contra o vereador Carlos Alberto. Os vereadores alegam que Martins teria promovido a exposição, de forma indevida, da imagem da Câmara Municipal de Amparo e que ele, abusando das prerrogativas que lhe são asseguradas como vereador, teria agido de modo incompatível com o decoro parlamentar, não preservando a imagem da Câmara Municipal, ofendendo, na matéria, a imagem do Poder Legislativo e dos vereadores. O requerimento é encaminhado para o corregedor da Câmara Municipal, vereador Rogério Catanese (PDT)
- No dia 19 de maio, os vereadores da Câmara Municipal de Amparo acataram por oito votos a um o relatório de autoria do vereador e corregedor do Legislativo amparense, Rogério Catanese (PDT), que permite a instauração de um processo disciplinar contra o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC). Uma comissão formada por cinco vereadores deve analisar o requerimento e a defesa do vereador para apresentar a defesa final.
- No dia 8 de junho, o vereador Carlos Alberto Martins apresenta sua defesa na Câmara Municipal em relação ao requerimento. Na defesa, fala sobre a vulnerabilidade em relação ao acesso à Câmara Municipal de Amparo. Utilizando o requerimento respondido pelo próprio presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mario Ancona, que afirma ser “impossível aquilatar o número de pessoas que frequentam a Edilidade, quer seja diária ou semanalmente”, Carlos Alberto diz, em sua defesa: “Se a própria Presidência da Casa não sabe quem entra ou quem sai, tampouco possui qualquer controle de identificação de pessoas que podem transitar sem nenhuma restrição nas dependências da Câmara Municipal de Amparo, além de vereadores e servidores, fica nítido que outros eventos delituosos semelhantes ao ocorrido com o requerido, vereador Carlos Alberto, estão sujeitos a acontecer a qualquer momento com qualquer um, inclusive suscetíveis a proporções maiores”, disse Carlos Alberto, sugerindo que o furto do seu atestado médico poderia ter sido praticado por desconhecidos.
- No dia 4 de agosto, é divulgado o parecer da comissão que pede uma suspensão de 90 dias para o vereador Carlos Alberto. No parecer, os vereadores afirmam: “É preciso deixar claro que a atitude do vereador Carlos Alberto Martins excedeu o limite da razoabilidade quando respondeu à noticia veiculada na imprensa local. Isso porque, ao responder, revelou pouca importância à boa imagem da Câmara Municipal perante a comunidade e mesmo à imagem de seus pares, desferindo ataques gerais com o intuito de denegrir a reputação não só dos vereadores, mas da Casa como um todo”.
- No dia 11 de agosto, os vereadores votaram por unanimidade favorável o parecer e decidem suspender Carlos Alberto por 90 dias. Na tribuna da Câmara Municipal, Carlos Alberto diz que vai recorrer na Justiça diante da decisão dos vereadores amparenses.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Invisíveis

Algumas pessoas são invisíveis. Não podemos negar! O sistema massacra as pessoas que não pertencem ao nosso ciclo e, dizer que isto é mentira, que não acontece comigo e com você, é hipocrisia pura sem qualquer aditivo. Não que (sempre) queiramos ignorá-los, mas estamos habituados. Não enxergá-los é uma proteção optica bastante eficaz para nos livrar de culpas.

Mais uma vez Carrie Bradshaw me emplacou. Para quem não conhece, Carrie é a protagonista do seriado americano Sex and the City e, ultimamente, minha terapeuta. Carrie é escritora e tem cabelos encaracolados (o último adjetivo é piada interna) e ela, assim como eu, precisou de alguém invisível para mostrar o valor de algumas coisas.

Uma mulher com touca na cabeça, uniforme acinzentado de faxineira. Sem perder a vaidade, nos seus mais de 50 anos, ela usa brincos grandes e dourados. Bijuteria barata. Batom vermelho. Eu não havia a notado, mas ela notou em mim. Eu estava em outro planeta, longe dali, 'viajando' em meus pensamentos tristes, em sentimentos ingratos e melancólicos. Mas ela notou em mim e mudou meu dia. Quanta alegria trazia aquela mulher. Quantas histórias trazem as pessoas invisíveis das ruas, dos ônibus. Que varrem as guias, lavam os pratos, servem as mesas.

A fictícia Carrie também precisou de uma mulher invisível para perceber o que algumas coisas bastam para se viver. Me emplacou. Agora vejo o batom vermelho em lábios finos da mulher invisível. Tornam-se visíveis o que há de mais belo no meu dia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando a gente cresce ...

Sei que estou perdendo o foco. Há coisas muito mais importantes para tratar aqui, mas não deixarei de compartilhar algumas reflexões que tomaram meus dias. Há alguns dias atrás eu percebi que cresci. Ora, como não?! Será que descobri isto tarde?!

Minha melhor amiga me ligou dando a notícia: vou me casar! Nesse momento, entre uma fala aqui e mais alguma do outro lado da linha, me dei conta que não éramos mais duas adolescentes espevitadas a procura de aventura, nem duas meninas descobrindo o mundo, tentando se esquivar das asas de nossos pais, com histórias mal contadas, mentiras deslavadas. Tive medo do tempo. Mas, a situação se agravou mais ainda quando encontrei num sebo (adoro comprar livros em sebos, tem cheiro de ... sebo!, uma sensação de reaproveitamento) um que eu já havia lido duas vezes, quando estava no colegial. Eu simplesmente era apaixonada. Quando voltei a ler, percebi o quanto eu havia mudado.

O livro é "Anos Rebeldes", de Gilberto Braga (este mesmo da TV Globo). Alguns trechos que achava o máximo nos meus 15 anos, hoje não faz mais sentido. Naquele tempo, eu suspirava com os trechos do diário escrito pela personagem Maria Lúcia, o amor não correspondido que Edgar carregava, o ideal revolucionário de João. Acho que eu cresci. Estou lendo, mas não suspiro mais.

Será que quando crescemos perdemos a capacidade de fantasiar ? Me lembro que antes de durmir costumava criar histórias sobre situações que eu gostaria que acontecessem. Era como um filme escrito apenas na memória que ia rodando, rodando ... até eu adormecer. Com o passar dos anos passei a me policiar. É que nem sempre as coisas acontecem como a gente quer e para não ter aquele sentimento de frustração, eu deixei de sonhar.

Será que este é um sinal de que a vida adulta está chegando? Outros sinais a gente conhece: moramos sozinhos, temos conta no banco, cartão de crédito, dirigimos. Saímos e voltamos sozinhos sem precisar segurar a mão de ninguém para atravessar a rua. Mesmo que a cidade onde estejamos seja bem maior e uma difícil novidade.

Alguns se passaram e só me dei conta agora que deixar de criar histórias. E isso me levou a uma saudadezinha. Talvez eu esteja crescendo e por isso parei de fantasiar. Mas pode ser que meu coração já esteja cansado dessa real realidade e esteja querendo a minha felicidade guardar.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Exagerado ...


Há exatos 19 anos, em 07 de julho de 1990, morria Cazuza.
Há muita coisa para se dizer do artista, mas resumo a questionar a sensibilidade da alma de gênios da música, das artes plásticas, do teatro ... Cazuza era assim, EXAGERADO. Não limitou-se ao óbvio, ao banal, ao pequeno, à hipocrisia. Ele (como tantos) queria amor, vida, paixão, sinceridade, mas se perdeu no meio da caminho, por tamanho exagero? Assim como Vinícius de Morais que se casou nove vezes e vivia a procura de um grande amor. Assim como Maísa, Tim Maia ...

Cazuza tinha alma de artista, tomados por impulsos, sensibilidade extrema, tristeza e alegria estampados em seu rosto. A música "Exagerado"; jogado aos seus pés, com mil rosas roubadas; talvez tenha estampado de forma nada exagerada o seu modo artista de ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O mentiroso

O que é um mentiroso? Mentiroso compulsivo, mentiroso conveniente? A verdade (que trocadilho!) é que um mentiroso acredita em sua própria mentira. Mente tanto que manipula o alvo de seus interesses, se envolvem numa trama, de tal maneira que acreditam em sua própria mentira (ou finge acreditar).

Conheço alguns tipos de mentirosos. Mas mesmo assim não deixo de amá-los. Piegas isso, não?! No início, inocentemente, me envolvia em seus enredos, mas passado o tempo, fui criando imunidade, uma espécie de anti-corpos, entende? Até sei quando a mentira sairá pela culatra. Nessa vasta e escassa experiência sobre mentirosos, até tento me defender, mas mesmo sabendo que é mentira acabo acreditando. Talvez eu queira acreditar. Será isso um distúrbio meu e não do mentiroso?

A verdade, ou melhor, a mentira (ah...sei lá) pode estar inevitavelmente evidente, mas o mentiroso continua insistindo de tal forma na mentira que começo a pensar que o problema sou eu, mesmo sabendo que o problema é o outro. Ainda mais bizarro é que o mentiroso se ofende ao ser chamado assim, de MENTIROSO. E quem o chama ainda se sente culpado por assim tê-lo magoado. Será esse um jogo de manipulação?!

Estou pensando seriamente em ser uma mentirosa. Ah, se não deixo de amá-los (esses mentirosos) e, no fundo, até gosto da mentira que me contam, talvez assim eu seja mais feliz sem me preocupar se estão mentindo pra mim. Decidi: vou inventar um mundo a minha maneira.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Olhando os quintais

A história de Arnaldo Lemos sempre me chamou a atenção e me despertou curiosidade. Em diversas vezes, havia tentado aproveitar qualquer oportunidade para saber mais sobre a sua vida e história. No final do últimi semestre, surgiu a possibilidade. Compartilho aqui:
Quem o conheceu há 50 anos, jamais imaginaria o rumo que sua vida tomaria. O caminho que parecia pré-destinado para o sociólogo e ex-padre, Arnaldo Lemos Filho, começou a ser desviado quando o seu instinto de contestação começou a despertar.
E o que parece hoje, aos 72 anos, é que Lemos ainda possui esse espírito contestador ainda bastante conservado. Lemos, sindicalista com grande influência nas décadas de 80 e 90, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), participante de movimentos sociais desde quando exercia o Ministério Sacerdotal, não é filiado a nenhum partido. “Tem amigos que acham que eu sou de direita por que não me filiei ao PT ou ao PC do B”, conta se divertindo. A explicação para essa isenção partidária é a de que não encontrou uma ideologia exata que o fizesse defender a bandeira. “Em cima do muro a gente vê os quintais”, ironiza. Do mesmo modo, como abandonou o sacerdócio por não concordar com tudo o que pregava. O dogmatismo e o purismo que ainda rejeita na Igreja Católica, fez com que deixasse de lado a idéia de se filiar aos partidos com que tinha afinidade logo na sua formação: Partido Comunista do Brasil e Partido dos Trabalhadores. “A Igreja já é dogmática e purista”. Também foram por esses motivos que abandonou o sacerdócio.
Lemos entrou para o seminário aos onze anos, por influência da família extremamente religiosa. Nascido em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas Gerais, com pouca idade mudou-se para Guaxupé (MG), para ingressar no seminário. Aos 23 anos, em 1960, se ordenou padre e passou a dar aulas para os seminaristas. Oito anos depois, em 15 de dezembro de 1968, dois dias depois de ser decretado o Ato Institucional (AI-5), se desligou da Igreja. “Não via mais sentido no que fazia”.
Sociólogo apaixonado, passou a vida como professor universitário. O que parece, é que a paixão pela sociologia nasce por permiti-lo ver o mundo em cima dos quintais. “Arnaldo é um contestador. Influenciou toda a família, que se filiou ao PC do B, mas jamais concordou com o partido ao ponto de levantar a sua bandeira”, conta o marido de sua irmã e grande amigo, Augusto Petta.
A primeira vez que teve algum contato com a política, foi em 1955, quando não havia se ordenado. Lemos foi chamado para preparar o ritual litúrgico da missa em comemoração ao aniversário do qual seria, no ano seguinte, o futuro presidente da república, Juscelino Kubitschek de Oliveira. “Os murmúrios políticos no café que ocorreu após a celebração, me fez perceber que alguma coisa acontecia no Brasil”.
No mesmo ano, Lemos iniciou o curso de Teologia na PUC São Paulo. Na universidade, conheceu o movimento ligado à Igreja, Juventude Operária Católica (JOC), em que participou entre 1958 e 1959. Nesse momento eram dados os primeiros passos ao engajamento político e o despertar de sua consciência social. “Era um movimento muito forte na Igreja, em auxílio aos operários”.
A Igreja Católica possui vários movimentos em prol dos mais carentes. Foi nisso, que Lemos se apegou. Mesmo contestando e indagando diversos dogmas da Igreja, como o batismo em crianças, Lemos acreditava que poderia unir o humanismo de Karl Marx com o conceito de igualdade reproduzido pela Igreja. Para o ex-padre, os conceitos da Igreja e Marx tinham o mesmo propósito: a igualdade entre as pessoas. “Se a Igreja é do povo de Deus, então há nela o humanismo de Marx”, pensava. Lemos ainda ressalta o que ainda traz consigo: “não acredito no marxismo ortodoxo, mas no humanismo”.
O primeiro filho de 14 irmãos, ele influenciou politicamente toda a família. Apesar do pai ser vereador por longos anos na cidade de Jundiaí, ele era um político conservador. “Eu levava muitos livros para meus irmãos”, relembra.
Sua irmã, dez anos mais nova, Maria Clotilde Lemos Petta, é a que mais foi influenciada pelo irmão. “Ele sempre me trazia livros. O Diário de Anne Frank, marcou muito a minha geração e me influenciou muito”.
Logo que se ordenou padre, Lemos foi chamado a palestrar num uma semana de estudos, organizada pelo Conselho Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), em Belo Horizonte. O objetivo era apresentar o Movimento de Base, método de educação desenvolvido por Paulo Freire. A Igreja, na época, queria formar sindicatos rurais na região para dar assistência social aos moradores que lidavam com o campo e inserir ali, o método Paulo Freire. “Voltei muito entusiasmado com o projeto”. No entanto, o trabalho com os camponeses rendeu-lhe um mal estar com os fazendeiros da região. “Começaram a falar que eu era um padre comunista”, relembra, achando graça. Ao final da missa, Lemos trocava o convite por café na casa dos fazendeiros para conversar com os camponeses. “No final da missa, eu avisava que queria fazer uma reunião com os trabalhadores. Eu queria saber qual era a real situação deles, as condições de trabalho, os salários etc”.
O cenário político no Brasil começava ganhar ares pesados. Em 1963, com João Goulart na presidência, começava a inserir no país a chamada Reforma de Base. Uma medida adotada pelo governo, em que previa a reformulação estrutural de diversos setores: educacional, fiscal, político e agrário. Com o apoio da Igreja Católica nesta medida, Lemos, adepto à idéia, começou utilizar as missas que celebrava para fazer pregações e levar ao conhecimento das pessoas, o que era a Reforma de Base. No entanto, as pregações não pararam por ali, Lemos começou unir as mensagens do Evangelho com os fatores políticos e sociais que cercavam o Brasil. “A Igreja passou a lotar nas missas de domingo”, conta, rindo.
O golpe militar, que deu a início aos anos de repressão no Brasil, ocorreu em 31 de março de 1964. Lemos conta que na cidade pequena de Guaxupé, no qual ainda estava, começou um falatório a fim de saber o que “o padre Arnaldo ia falar na homilia de domingo”. O povo da cidade começava a entender a situação política do país nas pregações que ele fazia.
Para o país, o golpe milita ainda era um enigma. Até mesmo a imprensa sabia o que, na real, aquilo significava. Para não desapontar a expectativa de seus fieis, Lemos leu a seguinte mensagem em sua pregação: “Na quinta-feira houve no Brasil um movimento militar que depôs o presidente da república e isso ocorreu por duas razões: corrupção e subversão. Então quer dizer que agora, está declarada a ordem no país. Portanto, a paz esteja convosco. Mas a paz quer dizer a ordem. Mas será que estamos em ordem? Como estão os camponeses? Como estão os trabalhadores? Há fome, há desigualdade ...”.
Quando decidiu abandonar o sacerdócio, descobriu que não conseguia encontrar uma verdade absoluta na Igreja. Voltou a dar aulas, o que realmente gostava de fazer. Em 1975, entrou para o sindicato dos professores universitários ao qual passou a lutar por melhores condições de trabalho e pedagógicas. Participou dos movimentos das “Diretas Já”, passeata dos Cem Mil.
“Arnaldo se tornou grande referência entre os movimentos”, conta a irmã. Lemos e Clotilde participaram ativamente em todos debates políticos e movimentos sociais.
Hoje, está casado há 36 anos e tem três filhas. “Elas não seguiram esse lado das ciências humanas”, conta. Hoje abandonou a religião católica e não educou suas filhas para nenhuma outra. Lemos tem uma visão libertária do mundo e por isso que sobrevive a sua paixão. “Eu gosto é de estudar a sociedade. Gosto de ver os quintais”.


terça-feira, 30 de junho de 2009

M.J.


Por que apenas percebemos o valor de algo ou alguém quando perdemos? Há pessoas que mais parecem um ícone, uma imagem ou um nome, do que propriamente uma pessoa.
Foi assim que me senti com a morte noticiada exaustivamente em todos os telejornais, jornais e site do país e do mundo, de Michael Jackson.
O cantor mais pop e mais adorado desse planeta não fez parte do repertório de minha vida. Lembro-me apenas do seu nome, junto ao de Madonna, repercutindo durante a minha infância. Mal conhecia as músicas do astro e o seu nome - a vasta referência que tinha - foi se perdendo ao longo dos anos, quando a presença direta de Michael também foi se perdendo.
Quando anunciaram a sua morte, pouco me importei. Mas, ao longo dos dias, ao rever sua vida nos programas especiais, seus clipes no youtube e até baixar pela internet seus maiores sucessos, me peguei pensando: "puxa, que pena que ele morreu". Foi assim que passei a dar valor para Michael.

Há pessoas que parecem imortais até que elas morram. Hoje, passei algumas horas ouvindo suas músicas e me lamentei por não ter visto os seus filmes, não saber - por ignorância mesmo - que muitas das músicas que já ouvi em baladas e em qualquer outro lugar era um grande sucesso de Michael. Senti pena de sua morte, do fim de uma era. Senti pena das pessoas que têm como trilha sonora de suas vidas, os grandes sucessos do americano.

Agora ... sinto uma tristeza maior, uma deveras pena, em lembrar que são nas perdas que percebemos qual espaço que uma pessoa ocupa em nossas vidas.

domingo, 21 de junho de 2009

Vende-se um diploma

A decisão do STF quanto a obrigatoriedade do diploma de jornalismo causou polêmica e inúmeras discussões. Para firmar sua indignação, nossa querida professora Márcia Fantinatti, nos mandou e-mail com um desafo. Após a sua autorização publico para apreciação de todos.


Caros e caras,

VENDE-SE DIPLOMA DE JORNALISTA BACHAREL PUC-CAMPINAS 1990 - MTb 22.521. Valor pago pelo diploma, na aquisição: Incontáveis noites mal dormidas (ou não dormidas) para estudar e também para atuar no movimento estudantil, por qualidade de ensino, democratização da informação, por um mundo mais justo etc.;

Posteriormente, insônia, estresse e vício em cafeína, fechando edições de jornais ou relendo mil vezes um texto, pra sair sem nenhum errinho; cinemas não frequentados, para sobrar grana pra mensalidade, xerox e outros gastos da Faculdade; discos (era disco, naquela época) não comprados; baladas, nem programadas; viagens de lazer eternamente adiadas; estágios mal remunerados; “freelas” que nunca foram pagos, mas valeram pela “experiência”; uma tenossinovite crônica, no punho direito, por excesso de digitação; uma causa jurídica com 11 anos de duração, ganha “na marra”, contra patrões arrogantes; uma vida de leituras, cursos de aperfeiçoamento, especialização no exterior, mestrado e doutorado; toneladas de assédio moral (entre outros), enfrentados pelo caminho...

Uso desse diploma: intenso, ético, apaixonado.

Preço: a combinar.

Valor: inestimável.

É assim que estamos nos sentindo ...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Nosso querido presidente, Sarney!

Como ando meio sem tempo para postar, assim postarei o que ando lendo por ai. Este, do blog da Lúcia Hipólito, é para que lembremos das últimas de nosso querido presidente do senado José Sarney e de toda a sua família.


O Senado é deles!

O mais recente escândalo a abalar o Legislativo e a minar a confiança dos cidadãos nas instituições chega na forma de cerca de 500 documentos sigilosos, encontrados por uma auditoria interna do Senado.
Tais documentos sigilosos dizem respeito a nomeações, exonerações, pagamentos de horas extras, pagamentos de planos de saúde odontológicos e clínicos para familiares de ex-parlamentares, entre outras aberrações inadmissíveis num estado democrático de direito.
Esta patologia aponta para duas doenças distintas, mas que se intercomunicam.
Primeiro, para a privatização dos espaços públicos. Tomemos o caso do senador José Sarney, presidente do Senado, por exemplo. O nobre parlamentar não reparou que mensalmente eram depositados em sua conta bancária R$ 3.800,00 de auxílio-moradia – embora o senador resida em uma bela casa em Brasília e tenha à sua disposição a residência oficial da Presidência do Senado.
O nobre senador também não sabia que sua especialista em campanhas, Elga Mara Teixeira Lopes, era, nas horas vagas, diretora do Senado Federal. Confrontado com os fatos, exonerou a especialista e a contratou como assessora pessoal.
Ainda, requisitou seguranças do Senado para fazer segurança privada em suas propriedades em São Luís. Embora o nobre parlamentar tenha sido eleito... pelo Amapá.
É como eu digo. Sarney não é um fofo?
Tem mais. A filha do senador Sarney, então senadora Roseana Sarney, considerou que era perfeitamente ético proporcionar um fim de semana em Brasília, na residência oficial do Senado, para um grupo de amigos maranhenses, companheiros de pano verde, já que a senadora não podia encontrá-los em São Luís, como fazia todos os fins de semana. Problema: os amigos tiveram as passagens pagas pelo Congresso Nacional.
A assessora de imprensa da senadora Roseana Sarney, a jornalista Tania Fusco, era também contratada como diretora do Senado. E não há notícia de que tenha sido exonerada.
Em seguida, ficamos sabendo que Fernando Sarney, também filho do senador Sarney, não é parlamentar, mas tem viagens de seus assessores pagas com cotas de passagens da Câmara dos Deputados.
E quando pensávamos que a privatização do Senado tinha chegado ao máximo, chega a notícia de que um neto do senador Sarney, filho de Fernando Sarney, foi contratado para trabalhar no gabinete do senador Epitácio Cafeteira, por R$ 7.600,00. O jovem tem 22 anos e ainda não se formou em Administração.
Cafeteira queria “pagar um favor” prestado por Fernando Sarney. Outro fofo! Casa-Grande e senzala perde!
Quando a lei do nepotismo começou a ser aplicada no Senado, Sarney Neto foi exonerado num desses documentos sigilosos, que não foi publicado em lugar nenhum. Mas a família não ficou ao relento. A mãe do jovem foi contratada para o mesmo cargo do filho, com o mesmo salário. Era pensão?!
Pensam que acabou? Pois o nobre senador José Sarney também não sabia que sua sobrinha Vera Portela Macieira Borges, filha de um irmãos de dona Marly Sarney, fora contratada em 2003 para um cargo de confiaça de assistente parlamentar, com um salário de R$4.600,00. Detalhe: ela mora em Campo Grande (MS), a mais de mil quilômetros de Brasília!
Como é espaçosa essa família Sarney! E sempre ocupando espaços com dinheiro público.
Novamente, Casa-Grande e sensala perde!!!
A segunda doença apontada por esta patologia dos documentos secretos é a auto-suficiência da burocracia.
Um dos poderes da República é dirigido por burocratas arrogantes, que se julgam no direito de emitir documentos sigilosos, promovendo uns, exonerando outros, pagando horas extras inexistentes.
Tudo isto sem a necessária transparência nem a necessária publicidade que devem obrigatoriamente presidir os atos da administração pública.
E que não se diga que são pequenas transgressões. Estamos falando de um orçamento anual de DOIS BILHÕES DE REAIS!!
Ocorre que, na administração pública, atos que não foram publicados não têm validade. Para isso existem os boletins administrativos, e, no caso do Legislativo, o Diário do Congresso Nacional.
Imaginem se uma lei, aprovada no Congresso, não for publicada! Não é por outra razão que as leis sempre terminam da mesma forma: "Esta lei entra em vigor na data de sua publicação".
E agora? Os nomeados por esses documentos sigilosos vão devolver aos cofres do país os salários que receberam indevidamente? Mas e aqueles que são inocentes e que realmente trabalharam? Como ficam?
Finalmente, é conveniente responsabilizar por todas as malfeitorias o antigo diretor do Senado, Agaciel Maia. Por mais poderoso que fosse, seus poderes emanavam da Mesa Diretora, ou seja, do presidente do Senado Federal.
Se existem documentos sigilosos datados de dez anos atrás, isto é, 1999, vamos lá. Os responsáveis por mais este capitulo de privatização de um espaço público e de desprezo pelo estado democrático de direito são os presidentes do Senado nesse período: Antonio Carlos Magalhães (2000-2001); Jader Barbalho (2001); Edson Lobão (2001); Ramez Tebet (2001-2003); José Sarney (2003-2005); Renan Calheiros (2005-2007); Tião Vianna (2007); Garibaldi Alves (2007-2009) e José Sarney (2009-...)
(Como se vê, é um desprezo suprapartidário.)
Até quando a sociedade brasileira vai continuar de cabeça baixa?

por Lúcia Hipólito
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/luciahippolito/

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Jornalismo Popular

No ponto de ônibus, na fila da padaria, na fila so SUS, da creche, do INSS. É taxista, pedreiro, doméstica, motorista. Esses são os lugares e as pessoas que leem o Notícia Já. O jornal de Campinas com mais ou menos uns três anos está em todos os cantos, nas mãos de muita gente. Confesso que tinha um legítimo preconceito com a forma como ele é feito, tanto na sua linguagem quanto em suas pautas. Além das suas fotos desnecessárias.
No entanto, há uns dias atrás, tive outra visão do jornal, quando me deparei com o seguinte conceito: esta é também é uma forma de educar o povo.

Seria esse um viés da teoria educacional de Paulo Freire, em que se parte da realidade e conhecimentos empíricos do educando para ensiná-lo? Paulo Freire alfabetizava a partir dos conhecimentos de seus alunos, por palavras que eles conheciam e que fazia parte de seu mundo.
Relacionei o pedagogo com o jornal popular. Se o povo, em grande parte é analfabeto funcional, não consegue interpretar o que lê, façamos um texto simples, coloquial, com linguajar popular, que povo conhece, ouve e fala.

Se as escolas fossem capazes de educar seriamente e com fundamentos fortes, não seria necessário fazer jornal popular. Dizem que a tendência do jornalismo é essa. Abranger um públicoalvo (grande público) que quer se informar, mas que nem sempre as informações corretas chegam até eles.
O jornalismo popular tem sua importância e talvez até maior do que imaginamos. A leitura e a informação chega e é recepcionada pelas classes menos favorecidas, que não querem saber de bolsa de valores, crise econômica, investimento empresariais. Essas pessoas querem saber quanto foi o aumento do pãozinho, a passagem de ônibus, do tapa-buraco.
Está na hora de repensar qual a forma de educar nesse país, porque se esperarmos do estado, parece que as coisas não vão mudar muito.


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vida em jogo

O cinema estava lotado. O filme: "Ele não está tão afim de você". Parece que todo mundo ali, a maioria mulheres - e o restante de homens presentes acho que somente as acompanhavam - queria descobrir o que sempre tentamos adivinhar.Um relacionamento é sempre um jogo, assim como a política, os negócios e tudo que pertence a este mundo e o faz funcionar.Não dizemos o que sentimos, para que eles (homens) não se sintam tão seguros de si, tenham medo de nos perder, não nos traiam. Não demonstramos nossos medos para mostrarmos mulheres bem resolvidas, assumidas, independente deles. E os homens, ah, esses "galinham", saem com todas pra mostrarem (muito menos para os outros e muito mais para eles mesmos) que são bons, machos seguros e imunizados de qualquer sensibilidade.A verdade é essa: jogamos. Sorrateiramente, colocamos nossas cartas sobre a mesa, damos sinais e tentamos interpretar os deles, mas na maioria das vezes, distorcemos tudo.Muito mais fácil e menos doloroso viver só. Você acorda a hora que quer, come quando quer, estuda, sai, dorme, lê, bebe, come quando quiser, sem ter alguém para dizer o porquê de tudo. E mesmo assim, continuamos em busca de alguém que mexa com nossos sentidos, aqueça nosso coração, segure a nossa mão, nos abrace apertado, seja nosso companheiro, nos faça amada e... nos deixe insanamente tentando decifrar os códigos que ele reproduz.A comédia trágica do filme, entra na mente dos homens e das mulheres. A loucura que é nossa mente contaminada por sentimentos. A cegueira que toma conta de nós quando estamos envolvidos. A justificativa que tentamos achar pra tudo. O porquê que ele não liga, o porquê que ele não pede em casamento, o porquê que ele não se envolve preferindo o morno, o quase.E mesmo contaminados por tantos dilemas, continuamos em busca. Será que Tom Jobim tinha razão quando escreveu: "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho"?Não seria muito mais fácil se fossêmos, primeiramente, sinceros com nós mesmos? E os outros menos cruéis com nossa sinceridade?Vivemos de signos. Analisando cada gesto, cada jeito, cada expressão pra entender o que outro laguém sente pela gente. Quer da gente, pensa da gente.Preferiria que fosse tudo menos complicado. Preto no branco. Em pratos limpos. Sem tentar interpretar o que tudo isso, vasto mundo, quer me dizer ou o que eu quero ouvir.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Instabilidade

Eu não sei lidar com instabilidades, apesar de odiar rotina.
Isso eu sempre me pergunto ...
Num momento está tudo em plena paz, em outro o mundo desaba e nunca é previsível.
É ai que sofremos. Vemos nossos planos se evaporando feito a chuva de verão. Tudo o que é bom, de repente torna-se mágoa, lembrança, vontade de ser o que não foi. E não será. Ou talvez seja.

"palavras duras em voz de veludo. E todo muda, adeus velho mundo. Há um segundo tudo estava em paz"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

de volta

Eu resolvi voltar, mas agora diferente.

É que falta onde colocar os meus anseios, minhas dúvidas, as coisas belas que me impulsa mais vida e as coisas brutas que acentuam meu senso crítico.
Não vou continuar presa às regras que eu mesma tracei para este blog. De notícia e técnicas de jornalismo, já me basta o meu dia (e por isso, dou graças a Deus!). Mas quero mais. Quero mais poesia, quero mais sentimento, mais revelações de mim para eu mesma, do que vejo e do que queria ver e está tão distante.

Já faz algum tempo que eu estou ensaiando este restorno, depois de meses de abandono. Mas me falta tempo, sobra cansaço e me desorganizo nas prioridades. Mas agora, na ativa novamente.