quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E tudo acaba em pizza ...

Como sempre, Lúcia Hipólito com sua crítica sofisticada, vem nos lembrar das peripécias do Senado brasileiro, exclusivamente do presidente José Sarney. Ontem, a indignação correu na veia. O PT se mostrou fraco, rachado e longe de pôr em prática os ideais do partido (cujo nome: DOS trabalhadores). O cerco se fechou, o líder da bancada do governo, Aloísio Mercadante, perdeu a autoridade e a força que um líder deve ter. E Lula ... nosso querido presidente segue adiante num projeto mais particular do que conjunto e partidário, com a obsessão de eleger Dilma em 2010. A moral da história é que mais uma vez, tudo acabou em pizza.

O caso do coronel


Lúcia Hipólito



As mais recentes denúncias sobre as estripulias do senador José Sarney estão longe de ser as últimas e apontam na mesma direção de todas as anteriores: a privatização de recursos e espaços públicos em benefício próprio. Ou de sua família. E o desprezo às leis do país.


Senão vejamos. Distraído, Sarney não reparou que recebia mensalmente R$ 3,8 mil de auxílio-moradia, mesmo tendo mansão em Brasília e tendo à disposição a residência oficial de presidente do Senado.
Culpa da burocracia do Senado.


Distraidíssimo, Sarney esqueceu de declarar sua mansão de R$ 4 milhões à Justiça Eleitoral. Culpa do contador.


Precavido, requisitou seguranças do Senado para proteger sua casa em São Luís – embora seja senador pelo Amapá.


Milionário (embora o Maranhão continue paupérrimo), não empregou duas sobrinhas e seu neto em suas inúmeras empresas. Preferiu que se empregassem no Senado.


Milionário generoso, não quis deixar a viúva de seu motorista ao relento. Empregou-a para servir cafezinho no Senado, em meio expediente, com salário de R$ 2,3 mil. Ah, e alojou-a em apartamento na quadra dos senadores.


Generoso, não impediu que seu outro neto fizesse negócios milionários com crédito consignado no Senado.


Ainda generoso, entendeu que um agregado da família deveria ser também empregado como motorista do Senado – salário atual de R$ 12 mil – mas trabalhando como mordomo na casa da madrinha, sua filha e então senadora Roseana Sarney.


Aliás, Roseana considerou normal convidar um grupo de amigos fiéis para um fim de semana em Brasília – com passagens pagas pelo Congresso.
Seu filho, Fernando Sarney, o administrador das empresas, que sequer é parlamentar, considerou normal ter passagens aéreas de seus empregados pagas com passagens da quota da Câmara dos Deputados.


Patriarca maranhense, ocupou as dependências do Convento das Mercês, jóia do patrimônio histórico, e ali instalou seu mausoléu. O Ministério Público já pediu a devolução, mas está complicado.


Não é um fofo?


Um dos mais recentes escândalos cerca justamente a Fundação José Sarney, que se apoderou das instalações do Convento das Mercês. Consta que R$1.300 mil captados através da Lei Rouanet junto à Petrobrás, para trabalhos culturais na Fundação José Sarney foram... desviados.
Não há prestação de contas, há empresas-fantasmas, notas fiscais esquisitas.


Enfim, marotice, para dizer o mínimo.( ou corrupção suburbana, como disse o Luis Fernando Veríssimo, desculpando Lula da inúmeras "maracutais" que promove) Mas Sarney alega que só é presidente de honra da Fundação.



Culpa dos administradores.


E o escândalo mais recente (na divulgação, não na operação): Sarney seria proprietário de contas bancárias no exterior não declaradas à Receita Federal. Coisa do amigão Edemar Cid Ferreira, amigão também da governadora Roseana Sarney a quem, dizem, costumava emprestar um cartão de crédito internacional. Coisa de gente fina.


Em suma, acompanhando as peripécias de José Sarney podemos revelar as entranhas do coronelismo, do fisiologismo, do clientelismo. Do arcaísmo.
Tudo isto demora a morrer. Estrebucha, solta fogo pela venta. Mas um dia desaparece.


Tal como os dinossauros.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Afastamento do vereador Carlos Alberto

Vale a pena assistir a sessão na Câmara dos Vereadores de Amparo.
Para entender o caso, segue abaixo trecho da matéria publicada no jornal A Tribuna.

http://www.youtube.com/watch?v=dfHsGggDnsc


- No início de abril, a Câmara Municipal de Amparo recebe uma denúncia anônima contra o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC). A denúncia alertava a respeito de possíveis irregularidades cometidas pelo vereador durante um afastamento do trabalho concedido pelo Instituto Nacional de Seguridade Social. Na denúncia, foi juntado um atestado médico do vereador, que comprovaria a irregularidade Ao tomar conhecimento da denúncia, o presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mário Acácio Ancona (PPS) encaminhou o fato ao conhecimento do Departamento Jurídico da Câmara Municipal de Amparo para dar um parecer. O parecer já foi devolvido ao presidente da Câmara Municipal e na segunda-feira, dia 13 de abril, Carlos Alberto Martins foi notificado do caso e teria 10 dias para apresentar a sua defesa. O caso estava sob sigilo.
- No dia 17 de abril, a noticia sobre a denúncia é divulgada por A Tribuna e o caso torna-se público.
- Na quarta-feira, dia 22 de abril, o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC) protocolou na Câmara Municipal de Amparo defesa em relação à denúncia apresentada contra ele sobre possíveis irregularidades cometidas em decorrência de um afastamento do trabalho concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). Na sua defesa, Carlos Alberto negou qualquer irregularidade, afirma ser vítima de “alguém político” e diz ainda que o atestado médico que originou a denúncia foi subtraído de sua pasta nas dependências da Câmara Municipal de Amparo em janeiro deste ano. O vereador encaminha sua defesa ao jornal A Tribuna para ser publicada e fala no seu programa de rádio sobre o assunto. Carlos Alberto diz que a pessoa que furtou o atestado médico “provavelmente seja a mesma que apresentou a denúncia na Câmara Municipal”.
- No dia 28 de abril, o presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mário Acácio Ancona (PPS), protocola requerimento assinado por ele e outros oito vereadores que pede a instauração de processo disciplinar contra o vereador Carlos Alberto. Os vereadores alegam que Martins teria promovido a exposição, de forma indevida, da imagem da Câmara Municipal de Amparo e que ele, abusando das prerrogativas que lhe são asseguradas como vereador, teria agido de modo incompatível com o decoro parlamentar, não preservando a imagem da Câmara Municipal, ofendendo, na matéria, a imagem do Poder Legislativo e dos vereadores. O requerimento é encaminhado para o corregedor da Câmara Municipal, vereador Rogério Catanese (PDT)
- No dia 19 de maio, os vereadores da Câmara Municipal de Amparo acataram por oito votos a um o relatório de autoria do vereador e corregedor do Legislativo amparense, Rogério Catanese (PDT), que permite a instauração de um processo disciplinar contra o vereador Carlos Alberto Martins (PSDC). Uma comissão formada por cinco vereadores deve analisar o requerimento e a defesa do vereador para apresentar a defesa final.
- No dia 8 de junho, o vereador Carlos Alberto Martins apresenta sua defesa na Câmara Municipal em relação ao requerimento. Na defesa, fala sobre a vulnerabilidade em relação ao acesso à Câmara Municipal de Amparo. Utilizando o requerimento respondido pelo próprio presidente da Câmara Municipal de Amparo, Mario Ancona, que afirma ser “impossível aquilatar o número de pessoas que frequentam a Edilidade, quer seja diária ou semanalmente”, Carlos Alberto diz, em sua defesa: “Se a própria Presidência da Casa não sabe quem entra ou quem sai, tampouco possui qualquer controle de identificação de pessoas que podem transitar sem nenhuma restrição nas dependências da Câmara Municipal de Amparo, além de vereadores e servidores, fica nítido que outros eventos delituosos semelhantes ao ocorrido com o requerido, vereador Carlos Alberto, estão sujeitos a acontecer a qualquer momento com qualquer um, inclusive suscetíveis a proporções maiores”, disse Carlos Alberto, sugerindo que o furto do seu atestado médico poderia ter sido praticado por desconhecidos.
- No dia 4 de agosto, é divulgado o parecer da comissão que pede uma suspensão de 90 dias para o vereador Carlos Alberto. No parecer, os vereadores afirmam: “É preciso deixar claro que a atitude do vereador Carlos Alberto Martins excedeu o limite da razoabilidade quando respondeu à noticia veiculada na imprensa local. Isso porque, ao responder, revelou pouca importância à boa imagem da Câmara Municipal perante a comunidade e mesmo à imagem de seus pares, desferindo ataques gerais com o intuito de denegrir a reputação não só dos vereadores, mas da Casa como um todo”.
- No dia 11 de agosto, os vereadores votaram por unanimidade favorável o parecer e decidem suspender Carlos Alberto por 90 dias. Na tribuna da Câmara Municipal, Carlos Alberto diz que vai recorrer na Justiça diante da decisão dos vereadores amparenses.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Invisíveis

Algumas pessoas são invisíveis. Não podemos negar! O sistema massacra as pessoas que não pertencem ao nosso ciclo e, dizer que isto é mentira, que não acontece comigo e com você, é hipocrisia pura sem qualquer aditivo. Não que (sempre) queiramos ignorá-los, mas estamos habituados. Não enxergá-los é uma proteção optica bastante eficaz para nos livrar de culpas.

Mais uma vez Carrie Bradshaw me emplacou. Para quem não conhece, Carrie é a protagonista do seriado americano Sex and the City e, ultimamente, minha terapeuta. Carrie é escritora e tem cabelos encaracolados (o último adjetivo é piada interna) e ela, assim como eu, precisou de alguém invisível para mostrar o valor de algumas coisas.

Uma mulher com touca na cabeça, uniforme acinzentado de faxineira. Sem perder a vaidade, nos seus mais de 50 anos, ela usa brincos grandes e dourados. Bijuteria barata. Batom vermelho. Eu não havia a notado, mas ela notou em mim. Eu estava em outro planeta, longe dali, 'viajando' em meus pensamentos tristes, em sentimentos ingratos e melancólicos. Mas ela notou em mim e mudou meu dia. Quanta alegria trazia aquela mulher. Quantas histórias trazem as pessoas invisíveis das ruas, dos ônibus. Que varrem as guias, lavam os pratos, servem as mesas.

A fictícia Carrie também precisou de uma mulher invisível para perceber o que algumas coisas bastam para se viver. Me emplacou. Agora vejo o batom vermelho em lábios finos da mulher invisível. Tornam-se visíveis o que há de mais belo no meu dia.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando a gente cresce ...

Sei que estou perdendo o foco. Há coisas muito mais importantes para tratar aqui, mas não deixarei de compartilhar algumas reflexões que tomaram meus dias. Há alguns dias atrás eu percebi que cresci. Ora, como não?! Será que descobri isto tarde?!

Minha melhor amiga me ligou dando a notícia: vou me casar! Nesse momento, entre uma fala aqui e mais alguma do outro lado da linha, me dei conta que não éramos mais duas adolescentes espevitadas a procura de aventura, nem duas meninas descobrindo o mundo, tentando se esquivar das asas de nossos pais, com histórias mal contadas, mentiras deslavadas. Tive medo do tempo. Mas, a situação se agravou mais ainda quando encontrei num sebo (adoro comprar livros em sebos, tem cheiro de ... sebo!, uma sensação de reaproveitamento) um que eu já havia lido duas vezes, quando estava no colegial. Eu simplesmente era apaixonada. Quando voltei a ler, percebi o quanto eu havia mudado.

O livro é "Anos Rebeldes", de Gilberto Braga (este mesmo da TV Globo). Alguns trechos que achava o máximo nos meus 15 anos, hoje não faz mais sentido. Naquele tempo, eu suspirava com os trechos do diário escrito pela personagem Maria Lúcia, o amor não correspondido que Edgar carregava, o ideal revolucionário de João. Acho que eu cresci. Estou lendo, mas não suspiro mais.

Será que quando crescemos perdemos a capacidade de fantasiar ? Me lembro que antes de durmir costumava criar histórias sobre situações que eu gostaria que acontecessem. Era como um filme escrito apenas na memória que ia rodando, rodando ... até eu adormecer. Com o passar dos anos passei a me policiar. É que nem sempre as coisas acontecem como a gente quer e para não ter aquele sentimento de frustração, eu deixei de sonhar.

Será que este é um sinal de que a vida adulta está chegando? Outros sinais a gente conhece: moramos sozinhos, temos conta no banco, cartão de crédito, dirigimos. Saímos e voltamos sozinhos sem precisar segurar a mão de ninguém para atravessar a rua. Mesmo que a cidade onde estejamos seja bem maior e uma difícil novidade.

Alguns se passaram e só me dei conta agora que deixar de criar histórias. E isso me levou a uma saudadezinha. Talvez eu esteja crescendo e por isso parei de fantasiar. Mas pode ser que meu coração já esteja cansado dessa real realidade e esteja querendo a minha felicidade guardar.