terça-feira, 7 de julho de 2009

Exagerado ...


Há exatos 19 anos, em 07 de julho de 1990, morria Cazuza.
Há muita coisa para se dizer do artista, mas resumo a questionar a sensibilidade da alma de gênios da música, das artes plásticas, do teatro ... Cazuza era assim, EXAGERADO. Não limitou-se ao óbvio, ao banal, ao pequeno, à hipocrisia. Ele (como tantos) queria amor, vida, paixão, sinceridade, mas se perdeu no meio da caminho, por tamanho exagero? Assim como Vinícius de Morais que se casou nove vezes e vivia a procura de um grande amor. Assim como Maísa, Tim Maia ...

Cazuza tinha alma de artista, tomados por impulsos, sensibilidade extrema, tristeza e alegria estampados em seu rosto. A música "Exagerado"; jogado aos seus pés, com mil rosas roubadas; talvez tenha estampado de forma nada exagerada o seu modo artista de ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O mentiroso

O que é um mentiroso? Mentiroso compulsivo, mentiroso conveniente? A verdade (que trocadilho!) é que um mentiroso acredita em sua própria mentira. Mente tanto que manipula o alvo de seus interesses, se envolvem numa trama, de tal maneira que acreditam em sua própria mentira (ou finge acreditar).

Conheço alguns tipos de mentirosos. Mas mesmo assim não deixo de amá-los. Piegas isso, não?! No início, inocentemente, me envolvia em seus enredos, mas passado o tempo, fui criando imunidade, uma espécie de anti-corpos, entende? Até sei quando a mentira sairá pela culatra. Nessa vasta e escassa experiência sobre mentirosos, até tento me defender, mas mesmo sabendo que é mentira acabo acreditando. Talvez eu queira acreditar. Será isso um distúrbio meu e não do mentiroso?

A verdade, ou melhor, a mentira (ah...sei lá) pode estar inevitavelmente evidente, mas o mentiroso continua insistindo de tal forma na mentira que começo a pensar que o problema sou eu, mesmo sabendo que o problema é o outro. Ainda mais bizarro é que o mentiroso se ofende ao ser chamado assim, de MENTIROSO. E quem o chama ainda se sente culpado por assim tê-lo magoado. Será esse um jogo de manipulação?!

Estou pensando seriamente em ser uma mentirosa. Ah, se não deixo de amá-los (esses mentirosos) e, no fundo, até gosto da mentira que me contam, talvez assim eu seja mais feliz sem me preocupar se estão mentindo pra mim. Decidi: vou inventar um mundo a minha maneira.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Olhando os quintais

A história de Arnaldo Lemos sempre me chamou a atenção e me despertou curiosidade. Em diversas vezes, havia tentado aproveitar qualquer oportunidade para saber mais sobre a sua vida e história. No final do últimi semestre, surgiu a possibilidade. Compartilho aqui:
Quem o conheceu há 50 anos, jamais imaginaria o rumo que sua vida tomaria. O caminho que parecia pré-destinado para o sociólogo e ex-padre, Arnaldo Lemos Filho, começou a ser desviado quando o seu instinto de contestação começou a despertar.
E o que parece hoje, aos 72 anos, é que Lemos ainda possui esse espírito contestador ainda bastante conservado. Lemos, sindicalista com grande influência nas décadas de 80 e 90, um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), participante de movimentos sociais desde quando exercia o Ministério Sacerdotal, não é filiado a nenhum partido. “Tem amigos que acham que eu sou de direita por que não me filiei ao PT ou ao PC do B”, conta se divertindo. A explicação para essa isenção partidária é a de que não encontrou uma ideologia exata que o fizesse defender a bandeira. “Em cima do muro a gente vê os quintais”, ironiza. Do mesmo modo, como abandonou o sacerdócio por não concordar com tudo o que pregava. O dogmatismo e o purismo que ainda rejeita na Igreja Católica, fez com que deixasse de lado a idéia de se filiar aos partidos com que tinha afinidade logo na sua formação: Partido Comunista do Brasil e Partido dos Trabalhadores. “A Igreja já é dogmática e purista”. Também foram por esses motivos que abandonou o sacerdócio.
Lemos entrou para o seminário aos onze anos, por influência da família extremamente religiosa. Nascido em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas Gerais, com pouca idade mudou-se para Guaxupé (MG), para ingressar no seminário. Aos 23 anos, em 1960, se ordenou padre e passou a dar aulas para os seminaristas. Oito anos depois, em 15 de dezembro de 1968, dois dias depois de ser decretado o Ato Institucional (AI-5), se desligou da Igreja. “Não via mais sentido no que fazia”.
Sociólogo apaixonado, passou a vida como professor universitário. O que parece, é que a paixão pela sociologia nasce por permiti-lo ver o mundo em cima dos quintais. “Arnaldo é um contestador. Influenciou toda a família, que se filiou ao PC do B, mas jamais concordou com o partido ao ponto de levantar a sua bandeira”, conta o marido de sua irmã e grande amigo, Augusto Petta.
A primeira vez que teve algum contato com a política, foi em 1955, quando não havia se ordenado. Lemos foi chamado para preparar o ritual litúrgico da missa em comemoração ao aniversário do qual seria, no ano seguinte, o futuro presidente da república, Juscelino Kubitschek de Oliveira. “Os murmúrios políticos no café que ocorreu após a celebração, me fez perceber que alguma coisa acontecia no Brasil”.
No mesmo ano, Lemos iniciou o curso de Teologia na PUC São Paulo. Na universidade, conheceu o movimento ligado à Igreja, Juventude Operária Católica (JOC), em que participou entre 1958 e 1959. Nesse momento eram dados os primeiros passos ao engajamento político e o despertar de sua consciência social. “Era um movimento muito forte na Igreja, em auxílio aos operários”.
A Igreja Católica possui vários movimentos em prol dos mais carentes. Foi nisso, que Lemos se apegou. Mesmo contestando e indagando diversos dogmas da Igreja, como o batismo em crianças, Lemos acreditava que poderia unir o humanismo de Karl Marx com o conceito de igualdade reproduzido pela Igreja. Para o ex-padre, os conceitos da Igreja e Marx tinham o mesmo propósito: a igualdade entre as pessoas. “Se a Igreja é do povo de Deus, então há nela o humanismo de Marx”, pensava. Lemos ainda ressalta o que ainda traz consigo: “não acredito no marxismo ortodoxo, mas no humanismo”.
O primeiro filho de 14 irmãos, ele influenciou politicamente toda a família. Apesar do pai ser vereador por longos anos na cidade de Jundiaí, ele era um político conservador. “Eu levava muitos livros para meus irmãos”, relembra.
Sua irmã, dez anos mais nova, Maria Clotilde Lemos Petta, é a que mais foi influenciada pelo irmão. “Ele sempre me trazia livros. O Diário de Anne Frank, marcou muito a minha geração e me influenciou muito”.
Logo que se ordenou padre, Lemos foi chamado a palestrar num uma semana de estudos, organizada pelo Conselho Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), em Belo Horizonte. O objetivo era apresentar o Movimento de Base, método de educação desenvolvido por Paulo Freire. A Igreja, na época, queria formar sindicatos rurais na região para dar assistência social aos moradores que lidavam com o campo e inserir ali, o método Paulo Freire. “Voltei muito entusiasmado com o projeto”. No entanto, o trabalho com os camponeses rendeu-lhe um mal estar com os fazendeiros da região. “Começaram a falar que eu era um padre comunista”, relembra, achando graça. Ao final da missa, Lemos trocava o convite por café na casa dos fazendeiros para conversar com os camponeses. “No final da missa, eu avisava que queria fazer uma reunião com os trabalhadores. Eu queria saber qual era a real situação deles, as condições de trabalho, os salários etc”.
O cenário político no Brasil começava ganhar ares pesados. Em 1963, com João Goulart na presidência, começava a inserir no país a chamada Reforma de Base. Uma medida adotada pelo governo, em que previa a reformulação estrutural de diversos setores: educacional, fiscal, político e agrário. Com o apoio da Igreja Católica nesta medida, Lemos, adepto à idéia, começou utilizar as missas que celebrava para fazer pregações e levar ao conhecimento das pessoas, o que era a Reforma de Base. No entanto, as pregações não pararam por ali, Lemos começou unir as mensagens do Evangelho com os fatores políticos e sociais que cercavam o Brasil. “A Igreja passou a lotar nas missas de domingo”, conta, rindo.
O golpe militar, que deu a início aos anos de repressão no Brasil, ocorreu em 31 de março de 1964. Lemos conta que na cidade pequena de Guaxupé, no qual ainda estava, começou um falatório a fim de saber o que “o padre Arnaldo ia falar na homilia de domingo”. O povo da cidade começava a entender a situação política do país nas pregações que ele fazia.
Para o país, o golpe milita ainda era um enigma. Até mesmo a imprensa sabia o que, na real, aquilo significava. Para não desapontar a expectativa de seus fieis, Lemos leu a seguinte mensagem em sua pregação: “Na quinta-feira houve no Brasil um movimento militar que depôs o presidente da república e isso ocorreu por duas razões: corrupção e subversão. Então quer dizer que agora, está declarada a ordem no país. Portanto, a paz esteja convosco. Mas a paz quer dizer a ordem. Mas será que estamos em ordem? Como estão os camponeses? Como estão os trabalhadores? Há fome, há desigualdade ...”.
Quando decidiu abandonar o sacerdócio, descobriu que não conseguia encontrar uma verdade absoluta na Igreja. Voltou a dar aulas, o que realmente gostava de fazer. Em 1975, entrou para o sindicato dos professores universitários ao qual passou a lutar por melhores condições de trabalho e pedagógicas. Participou dos movimentos das “Diretas Já”, passeata dos Cem Mil.
“Arnaldo se tornou grande referência entre os movimentos”, conta a irmã. Lemos e Clotilde participaram ativamente em todos debates políticos e movimentos sociais.
Hoje, está casado há 36 anos e tem três filhas. “Elas não seguiram esse lado das ciências humanas”, conta. Hoje abandonou a religião católica e não educou suas filhas para nenhuma outra. Lemos tem uma visão libertária do mundo e por isso que sobrevive a sua paixão. “Eu gosto é de estudar a sociedade. Gosto de ver os quintais”.