quarta-feira, 2 de março de 2011

Memória

Naquele sábado a noite, quando sai pelo porta do apartamento buscando o botão que chama o elevador, senti teu cheiro. Foi tão real que refiz o mesmo passo para sentir de novo aquele perfume. Foi tão intenso que poderia ir e voltar mil vezes e aquela fragância permaneceria ali, como se estivesse ao meu lado. De tão surreal que aquilo aparecia que até ri, de mim mesma.

A memória é mesmo traidora. Agora, se tento lembrar aquele teu cheiro nada me vem à mente para consolar essa saudade que sinto dos teus carinhos e da tua presença. E se peço à ela que apague então o momento em que te conheci e todos aqueles em que passei ao teu lado, ela me nega, fria. Diz que não há como me fazer esquecer. Me diz que sua função é guardar e zelar pelos momentos dos quais passei e que tenham significado intenso e marcado a minha vida de forma boa ou ruim. O resto, ela joga fora, descarta sem dó.

Mas em um ato de desespero, eu insisto. "Não quero mais essas lembranças", digo à ela. Eu não quero mais me lembrar dos nossos beijos. Não quero mais me lembrar dele quando ligo a TV e está passando futebol. Não quero colocar aquela blusa que me faz lembrar do primeiro dia em que almocei em sua casa. Quero que o dia 26 volte ser como qualquer outro dia do calendário. Quero apagar seu nome da agenda do meu celular e não saber mais em que número te ligar. Quero esquecer o caminho da sua casa. Quero esquecer teu nome, teu email, a tua idade. Quero esquecer teu gosto. Quero apagar dos meus ouvidos a tua voz.

Quero me esquecer dos nossos planos, da cor do teu cabelo, dos seus olhos apertadinhos. Quero esquecer para que time torce, quais são os seus ídolos. O toque do seu celular. Quero apagar da minha memória as nossas conversas pela madrugada sob aquela imagem de um céu claro da noite emoldurada pela janela da sala. Quero me esquecer o teu jeito de me olhar, que dizia tanta coisa, sem disfarçar.

Quero esquecer porque começou, porque continuou e porque agora chega ao fim. Mas não adianta eu implorar. "Memória, você é minha, porque não me obedece?", suplico amargurada. Insisto. Mas ela não me responde, permanece em silêncio. É que a resposta está com meu coração.