domingo, 1 de junho de 2008

O que restou de 68


O ano de 2008 está sendo um pretexto para muitas lembranças da história do nosso país e do mundo. Em 1968, o Brasil e o mundo viviam uma situação jamais repetida. Mas, será que as pessoas sabem que hoje vivem o resultado da luta de uma geração? Em países como a França e os Estados Unidos as ruas eram palco para manifestações. A política do país era cenário que movia todo um afloramento de idéias e ações. Indignação com a repressão contra as mulheres abriram as portas para os movimentos feministas. Mobilizações contra a guerra da Argélia, na França e contra a guerra do Vietnã, nos Estados Unidos, entre outros fatores políticos, resultavam em ameaça ao governo e ao fortalecimento dos revolucionários.

Hoje, o Brasil vive uma política democrática, resultado de uma luta apaixonante e sacrificada. Há exatamente quatro décadas, a luta aqui era contra a ditadura, que impunha autoritarismo e censura à livre expressão. Será que as pessoas, descendentes de uma geração sonhadora e corajosa, conhecem a importância de 1968 e dos anos que se seguiram? Como uma vez observou Ivan Lessa, “o que dizer de um país que a cada quinze anos esquece os últimos quinze anos?”. A política, de fato é outra. Não há censuras, há democracia e, portanto, não é necessário aderir à luta armada, fugir do país ou mudar de identidade. No entanto, reconhecer e utilizar os direitos conquistados para nós é a forma mais branda de reconhecer o que somos hoje e o que foi um dia toda uma geração.

Em ano eleitoral como este, é fato visível e comum o desinteresse das pessoas por política. Mais comum são os cidadãos que optam por não votar e que perante a lei dão uma justificativa meramente simbólica. O que antes era o motivo para lutar com tanta audácia, hoje é um dever comumente desprezível. Se hoje a internet, principalmente através de “blogs”, propicia que qualquer pessoa, independente de idade, sexo, visão política, religião ou classe social, tenha direito de se expressar, é porque um dia isso foi conquistado.

O cenário do país é outro, as necessidades são outras. O que o país precisa hoje são de pessoas conscientes de seus direitos e de suas responsabilidades como cidadão. O país precisa de pessoas que estejam cientes das crises de corrupção que o país constantemente vive e de estudantes antenados com seu papel na sociedade. Sociedade esta que insiste cada vez mais em distanciar ricos e pobres, num capitalismo ridiculamente impositor do consumismo, do individualismo e da lucratividade.

A atual geração arrasta hoje pouco da personalidade do passado, mas muito da conseqüência daqueles atos. Quarenta anos fizeram muita diferença. As idéias que um dia levantaram bandeiras resultaram no que somos nós hoje, com uma capacidade ainda maior, mais forte, mais eficaz em mudar o Brasil, plantaram em nossas mãos as condições, com raiz forte e duradoura.

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