sexta-feira, 27 de junho de 2008

Lula não conquistou a mídia

POR QUE O GOVERNO LULA PERDEU A BATALHA NA CONQUISTA DA MÍDIA. Texto de Bernardo Kucinski, publicada na Carta Maior, é um diferencial. Quando a mídia insiste em se opôr, vemos o jornalismo e ainda de massa, parcial e partidário. É uma pena que reflexões como esta não esteja ao alcance de todos.

Veja abaixo, alguns trechos desta análise ou na íntegra: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15070

"A mídia na era Lula deixou de funcionar como mediadora da política, passando a atuar diretamente como um partido político de oposição. Apesar de disputarem agressivamente o mercado entre si, há mais unidade programática hoje entre os veículos da mídia oligárquica do que no interior de qualquer partido político brasileiro, até mesmo partidos ideológicos como o PT e o PSOL. Todos os grandes veículos, sem exceção, apóiam as privatizações, a contenção dos gastos públicos, a redução de impostos; a obtenção de um maior superávit primário, a adesão do Brasil à ALCA; todos são críticos à criação de um fundo soberano, ao controle na entrada de capitais, ao Bolsa Família, à política de cotas nas universidades para negros, índios e alunos oriundos da escola pública, à entrada de Venezuela no Mercosul e ao próprio Mercosul. Todos criticam o governo sistematicamente, em todas as frentes da administração, faça o governo o que fizer ou deixar de fazer.

Na campanha da grande imprensa que levou Vargas ao suicídio, o governo ainda contava como apoio da poderosa cadeia nacional de jornais Última Hora. Hoje, não há exceção entre os grandes jornais. Outra diferença desta vez é a adesão ampla de jornalistas à postura de oposição, e sua disseminação por todos os gêneros jornalísticos tornando-se uma sub-cultura profissional. Emulada por editores, prestigiada por jornalistas bem sucedidos e comandada pelos intelectuais orgânicos das redações, os colunistas, essa sub-cultura é dotada de um modo narrativo e jargão próprios.

Em contraste com o jornalismo clássico, que trabalha com assertivas verazes para esclarecer fatos concretos, sua narrativa não tem o objetivo de esclarecer e sim o de convencer o leitor de determinada acusação, usando como fio condutores seqüências de ilações. É ao mesmo tempo grosseira na omissão inescrupulosa de fatos que poderiam criar outras narrativas , e sofisticada na forma maliciosa como manipula falas, datas e números. O enunciador dessa narrativa conhece os bastidores do poder e não precisar provar suas assertivas. VEJA acusou o PT de receber dinheiro de Cuba, admitindo na própria narrativa não ter provas de que isso tenha acontecido. Em outra ocasião, justificou a acusação alegando não haver nenhuma prova de que aquilo não havia acontecido.

Trata-se de uma sub- cultura agressiva. Chegam a atacar colegas jornalistas que a ela se recusaram a aderir , criando nas redações um ambiente adverso a nuances de interpretação ou divergências de análise. O meta-sentido construído por essa narrativa é o de que o governo Lula é o mais corrupto da história do Brasil, é incompetente, trapalhão, só tem alto índice de aprovação porque o povo é ignorante ou se deixa levar pelo bolso, não pela cabeça.

Levantam como principal bandeira o repúdio à corrupção. Mas como quase todo o moralismo em política, trata-se de mais uma modalidade de falso moralismo: é o “moralismo dirigido” que denuncia os “ mensaleiros do PT” e deixa pra lá o valerioduto dos tucanos, onde tudo de fato começou, e mais recentemente o escândalo do Detran de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul onde tudo continua. É “ moralismo instrumental”, que visa menos o restabelecimento da ética e mais a destruição do PT e do petismo.

O que poucos sabem é que essa sub-cultura se tornou dominante graças a uma mãozinha da Globo. Quando foi revelada em fevereiro de 2004 a propina recebida dois anos antes por Waldomiro Diniz, sub-chefe da assessoria parlamentar da Casa Civil do governo Lula, a Globo vislumbrou a oportunidade de uma ofensiva de caráter estratégico: cortar o barato do petismo e de sua ameaça de governar o Brasil por 40 anos. Com esse objetivo, mudou o modus operandi do seu jornalismo político. Logo depois das denúncias de Roberto Jefferson, criou uma central de operações, em Brasília, unificando as coberturas de política da TV, CBN e jornal O Globo sob o comando de Ali Kamel, que para isso se deslocou para Brasília.

(...) A VEJA lançara sua própria operação de objetivos estratégicos muito antes. Entre 2003 e 2006, VEJA produziu 50 capas contra Lula , sendo 18 delas consecutivas.

Quando surgiu a fita de Waldomiro Diniz, a revista revelou esse objetivo em ato falho : “Os ares em torno do Palácio tinham na semana passada sabor de fim de governo.”

Na Globo, a operação encontrou resistências internas de jornalistas que ainda lambiam as feridas provocadas pelo falseamento do debate Collor- Lula, e da cobertura da campanha das Diretas Já. Deu-se então a marginalização de Franklin Martins da cobertura política. Esse afastamento teve grande importância porque institui no corpo de jornalistas a sensação de insegurança e o medo, necessários para a imposição da nova ordem. Sua saída foi um baque”, avaliou Luiz Nassif em entrevista a Forum.

(...)Mas temos um paradoxo. O governo Lula tem mantido religiosamente seu acordo estratégico com o capital financeiro, que é o setor dominante hoje no capitalismo mundial e brasileiro. E apesar do vasto leque de políticas públicas de apoio aos pobres, não brigou com nenhum dos outros grupos de interesses do grande capital. Por que então tanta hostilidade da mídia? É como se a grande mídia agisse por conta própria, pouco ligando para a dupla capital financeiro-capital agrário e na qual se apóia.

(...)É uma mídia governista, ou ”áulica”, na adjetivação de Nelson Werneck Sodré, quando o governo faz o jogo da dependência, como foram os governos de Dutra, Café Filho, Jânio Quadros e Fernando Henrique. E anti-governista, quando os governos são portadores de projetos de autonomia nacional, como foram os governos de Getúlio, Juscelino, que rompeu com o FMI, Jango e agora o de Lula.

Uma mídia que já nasceu neoliberal, muito antes do neoliberalismo se impor como ideologia dominante e organizativa das políticas públicas. Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de “populista”. Em artigo recente na Folha, Bresser Pereira associou diretamente o discurso da mídia contra o populismo e sua inclinação pelo golpe à nossa extrema pobreza e polarização de renda. “Como a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente por meio do mercado mas do Estado, a probabilidade de que facções das elites recorram ao golpe de Estado quando se sentem ameaçadas é sempre grande.” Diz ainda que nossas elites “estão quase sempre associadas às potências externas e às suas elites.” Daí, diz ele ”O que vemos na imprensa, além de ameaças de golpe é o julgamento negativo dos seus governantes...”

A incompatibilidade entre governos populares portadores de projetos nacionais e a mídia oligárquica é de tal ordem que muitos desses governantes tiveram que jogar o mesmo jogo do autoritarismo, para dela se proteger. Getulio criou a Hora do Brasil como programa informativo de rádio para defender a revolução tenentista contra a oligarquia ainda em 1934, quando o regime era democrático, fundado na Constituição de 34. No Estado Novo foi ao extremo de instituir a censura previa através criando o Departamento de Imprensa e Propaganda. (DIP). No em seu retorno democrático, estimulou Samuel Wainer a criar sua cadeia Última Hora.

(...)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Justus - um programa para um país injusto!


"O Aprendiz" da rede Record, na última quinta-feira, me convenceu que o empresário Roberto Justus é um "burguesão", como já diria o Erik, vulgo Che!
Além de Justus, a direção do programa, segue o mesmo rumo e ideologia: disseminar o capitalismo, num perfil de empresário arrogante e ditador, com uma lavagem cerebral em "puxas-sacos", denominados "aprendizes". Os telespectadores, por outro lado, tomam o papel de alunos como se fosse uma sala de aula, em que se aprende a competir e se dar bem na vida. Mas e quando o telespectador está fora da realidade do luxo do programa??
Como eu disse, a última quinta-feira me surpreendeu, ainda mais! A equipe vencedora da prova do dia, teve como prêmio R$10.000,00 para torrar no lugar mais propício: shopping. Nada mais, nada menos. Gastar em que quisessem. O prêmio e o programa daquela noite, por fim, acabam sem antes um dos participantes dizer em não saber mais em que gastar e encher um carrinho de supermercado com bichinhos de pelúcia e futilidades.
Então, o cortador de cana, lá do interior do Mato Grosso, que sustenta família com salário mínimo fica se perguntando o que faria com tanta "dinheirama" assim para gastar. E toda a população de massa deve se perguntar o que é empreendedorismo, marketing e blá blá blá. Eles deveriam ensinar para o Justus como administrar a vida assim, na miséria. E eu, então, me pergunto: por que ainda questionamos o porquê do Brasil ser tão desigual?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Obras em ano eleitoral gera discussão em Amparo



Parte da população define as obras como eleitoreiras, mas a prefeitura se defende justificando que já estavam em planejamento


Amparo, cidade do interior paulista, governada pelo Prefeito César Pagan (PT) que está em seu segundo mandato e, portanto não poderá se reeleger está passando por três grandes obras de infra-estrutura. Para algumas pessoas, os projetos têm caráter eleitoreiro, mas a prefeitura se justifica dizendo que estes são projetos de anos anteriores. O radialista da cidade Carlos Alberto Martins, que possui um quadro em seu programa chamado “Boca no Trombone” no qual faz críticas ao governo, acha que executar as obras neste ano de eleições faz parte de um planejamento político eleitoral. “Seria estranho achar que isso é coisa do acaso. Claro que o cunho eleitoral está embutido nas obras, isso não é novidade no nosso país”, diz o radialista.
A administração pública se defende das acusações. De acordo com a assessoria de imprensa, as três obras: reabilitação do centro cidade com abaixamento da fiação do centro; projeto de tratamento de esgoto com reconstrução da marginal e revitalização do Mercado Municipal são projetos que só puderam ser executados agora. O tratamento de esgoto, assim como as demais, é um projeto que teve início no primeiro mandato. Porém, pelo processo burocrático que teve a primeira aprovação no final de 2004, passando pela aprovação técnica e resultando na aprovação geral e liberação de verbas no final de 2006, elas só puderam iniciar em 2007 e serão finalizadas em agosto deste ano. Além disso, o assessor de imprensa da prefeitura, Alcides Pereira Bueno Neto, diz que muitos investimentos vêm de outros órgãos públicos, como do governo estadual e federal. “Essas obras tem recursos de fora, só pudemos iniciá-las a partir da liberação do recurso”, diz Neto. Outra justificativa da prefeitura é que a cidade tinha muita dificuldade de conseguir financiamento, pois até a criação da Lei de responsabilidade fiscal, em 2000, a cidade tinha muitas dívidas e atrasos nos pagamentos.
Mesmo que os processos de licitação tenham tramites burocráticos que podem demorar anos, para a população acaba sendo comum achar que todas as ações nesta época são atitudes vinculadas a interesses políticos. Com esse conceito, o candidato pode construir uma imagem negativa ao executar esses projetos.
Para o professor e cientista político, Pedro Rocha Lemos, executar obras em ano eleitoral pode advir de interesses políticos, assim como estar vinculado a planejamentos administrativos, como se justificou a prefeitura. No entanto, acredita que mesmo sem interesses eleitorais, o político busca tirar um proveito para se beneficiar. “A sobrevivência do político depende da forma como ele vai aparecer na mídia e como ele vincula o seu nome em determinadas obras, esse é o universo da política”, diz Lemos.
Por outro lado, a população também tira proveitos particulares de benefícios concedidos em campanhas eleitorais. “O jogo da política não é um jogo só do político, é um jogo da população também, então a população joga e tira proveito disso”, diz o cientista.
A estudante Gláucia Cristina Scavassa acredita que as obras de Amparo são eleitoreiras, mas que esta é uma forma do governo fazer algo para a população. “De certa forma é bom porque a gente acaba se beneficiando, pois todos os políticos só fazem obras em ano eleitoral”, diz a estudante.
Já para o estudante Adilson Jorge, as obras não são eleitoreiras, pois fazem parte de um planejamento. “Na verdade desde 2004 o governo está tentando conseguir verba para obras e somente agora foi conseguido. Essa iniciativa partiu desta gestão, do prefeito César”.


por Bruna Lidiane

Foto: Adilson Jorge

domingo, 1 de junho de 2008

O que restou de 68


O ano de 2008 está sendo um pretexto para muitas lembranças da história do nosso país e do mundo. Em 1968, o Brasil e o mundo viviam uma situação jamais repetida. Mas, será que as pessoas sabem que hoje vivem o resultado da luta de uma geração? Em países como a França e os Estados Unidos as ruas eram palco para manifestações. A política do país era cenário que movia todo um afloramento de idéias e ações. Indignação com a repressão contra as mulheres abriram as portas para os movimentos feministas. Mobilizações contra a guerra da Argélia, na França e contra a guerra do Vietnã, nos Estados Unidos, entre outros fatores políticos, resultavam em ameaça ao governo e ao fortalecimento dos revolucionários.

Hoje, o Brasil vive uma política democrática, resultado de uma luta apaixonante e sacrificada. Há exatamente quatro décadas, a luta aqui era contra a ditadura, que impunha autoritarismo e censura à livre expressão. Será que as pessoas, descendentes de uma geração sonhadora e corajosa, conhecem a importância de 1968 e dos anos que se seguiram? Como uma vez observou Ivan Lessa, “o que dizer de um país que a cada quinze anos esquece os últimos quinze anos?”. A política, de fato é outra. Não há censuras, há democracia e, portanto, não é necessário aderir à luta armada, fugir do país ou mudar de identidade. No entanto, reconhecer e utilizar os direitos conquistados para nós é a forma mais branda de reconhecer o que somos hoje e o que foi um dia toda uma geração.

Em ano eleitoral como este, é fato visível e comum o desinteresse das pessoas por política. Mais comum são os cidadãos que optam por não votar e que perante a lei dão uma justificativa meramente simbólica. O que antes era o motivo para lutar com tanta audácia, hoje é um dever comumente desprezível. Se hoje a internet, principalmente através de “blogs”, propicia que qualquer pessoa, independente de idade, sexo, visão política, religião ou classe social, tenha direito de se expressar, é porque um dia isso foi conquistado.

O cenário do país é outro, as necessidades são outras. O que o país precisa hoje são de pessoas conscientes de seus direitos e de suas responsabilidades como cidadão. O país precisa de pessoas que estejam cientes das crises de corrupção que o país constantemente vive e de estudantes antenados com seu papel na sociedade. Sociedade esta que insiste cada vez mais em distanciar ricos e pobres, num capitalismo ridiculamente impositor do consumismo, do individualismo e da lucratividade.

A atual geração arrasta hoje pouco da personalidade do passado, mas muito da conseqüência daqueles atos. Quarenta anos fizeram muita diferença. As idéias que um dia levantaram bandeiras resultaram no que somos nós hoje, com uma capacidade ainda maior, mais forte, mais eficaz em mudar o Brasil, plantaram em nossas mãos as condições, com raiz forte e duradoura.